sexta-feira, julho 8

CARTA DE UMA MÃE ALENTEJANA (Ao filho na Bósnia)

Mê querido filho:
Escrevo-te algumas linhas apenas pra saberes que tou viva. Estou-te a escrever devagar, pois sei que nã sabes ler depressa. Nã vais reconhecer a nossa casa quando voltares, pois nós mudamo-nos. Temos uma máquina de lavar rôpa, mas nã trabalha muito bem, a semana passada puz lá catorze camisas, puxei a corrente e nunca mais as vi.
Acerca do tê pai, ele arranjou um bom emprego, tem 1.500 homens debaixo dele, pois agora está cortando a relva do cemitério.A magana da tua irmã Maria teve bebé esta semana, mas sabes, eu nã consegui saber sé menino ou menina, portanto nã sei sês tio ó tia.
O tê ti Patricio afogou-se a semana passada num depósito de vinho, lá na adega cuprativa, alguns compadris tentaram salvá-lo mas sabes, ele lutou bravamente contra eles. O corpo foi cremado mas levou três dias pra apagar o incêndio.
Na quinta fêra fui ao médico e o tê pai foi comigo. O médico pôs-me um pequeno tubo na boca e disse-me pra nã falari durante dez minutos. Atão nã sabes que o tê pai ofereceu-se logo pra comprar o tubo ao médico.
Esta semana só choveu duas vezes. Na primeira vez choveu durante três dias e na segunda durante quatro dias. Na segunda fêra teve tanto vento que uma das galinhas pôs o mesmo ovo quatro vezes.
Recebemos uma carta do cangalhero que informava que se o último pagamento do enterro da tua avó nã fõr fêto no prazo de sete dias, devolvem-na.
Olha, mê filho, cuida-te.
Nã te esqueças de beber muito lête todas as nôtes, antes de interrares os cornos na fronha.
Um bêjo.
Jaquina do Chaparro
PS: Era para mandar 5 contos, mas já tinha fechado o envelope, nã tos mandei. Fica pra próxima, porra!

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